Olá, meus atores e minhas atrizes do lado daí! Hoje eu abro o baú de memórias pra falar de uma peça que marcou minha trajetória de um jeitinho especial: Alô, Alô Brasil, apresentada no Teatro Ítalo em 2022. Um espetáculo que, de tão querido, virou xodó, medalha de afeto, figurinha dourada no meu álbum de lembranças teatrais.
PEÇA ALÔ, ALÔ BRASIL
Tudo começou quando recebi o roteiro do meu querido amigo e talentoso dramaturgo Alê Freitas. E olha… foi aquele tipo de surpresa boa que a gente guarda com laço de fita. Primeiro porque era teatro de revista (aquele gênero lindo e cheio de brilho que mistura música, humor e crítica social). Segundo, porque apesar de ter um fio condutor narrativo, a peça era baseada no improviso — o que, pra atriz que mora em mim, foi um prato cheio. Terceiro (e talvez o mais importante): a história era envolvente, brasileira até a alma, e precisava ser contada com aquele tempero certo de irreverência e coração.
TEATRO DE REVISTA
Pra quem não conhece, o Teatro de Revista nasceu lá na França do século XVII, mas ganhou o mundo — e o Brasil — no século XX. É aquele tipo de espetáculo que mistura esquetes, músicas, dança, crítica política e muita graça. É como se a realidade passasse por um filtro cômico e colorido, sem perder a profundidade. Uma colagem artística que fala do povo, com o povo, pro povo.
Em Alô, Alô Brasil, a gente resgatava essa tradição com muito carinho, sem esquecer de dar o nosso toque atual. Cada cena era uma surpresa, cada número musical um convite pra dançar junto — nem que fosse só com o coração.
UM PALCO, MIL BRASILIDADES
O mais delicioso de Alô, Alô Brasil era justamente isso: a liberdade de brincar, criar e viver várias personagens numa só noite. Do rádio antigo à TV em preto e branco, da marchinha ao axé, a gente costurava épocas, sotaques, modas e memórias com um figurino bem colorido e alma pulsante. Era quase como abrir um baú de brasilidades e deixar tudo brilhar sob a luz do refletor.
Tinha crítica social, sim. Mas tinha também muito riso, exagero, charme, e aquele humor que não envelhece nunca. E entre uma cena e outra, improvisávamos com o público, criando momentos únicos — daqueles que não se repetem nem se tentarmos igualzinho de novo.
SUZETE CAMPOS E O CAMARIM DAS EMOÇÕES
Na trama, eu tive a honra de dar vida à maravilhosa Suzete Campos. Uma ex-vedete com brilho eterno, aplaudida, reverenciada e eternamente lembrada pelo público — mas com um coração que batia no ritmo de um único nome: Dino.
Dino era mais que um diretor. Era o homem que a descobriu quando jovem, que viu nela uma estrela antes mesmo dela saber que brilhava. E o reencontro dos dois, décadas depois, acontece no camarim. Um lugar onde memórias dançam entre plumas, espelhos iluminados e silêncios cheios de subtexto. Mas como toda boa história dramática, a vida tem seus plot twists.
Dino tem um mal-estar e precisa ser levado às pressas para o hospital. E aí… entra em cena Clara. Uma advogada metida a sabichona, enviada por Mister Jeff, que se autoproclama nova diretora da peça. Imaginem só: Suzete, dona de si, enfrentando uma Clara cheia de burocracias e ordens mal colocadas. Foi aí que a comédia se acendeu e a trama ganhou novos contornos.
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ENTRE BRILHOS, SAUDADE E RESISTÊNCIA
Alô, Alô Brasil não era só sobre teatro — era sobre memórias que teimam em não se apagar. Sobre mulheres que envelhecem no palco sem perder a luz, sobre amores que sobrevivem ao tempo e sobre os embates entre tradição e modernidade. Suzete era vaidosa, intensa, dramática e real. Tinha aquela coragem de quem já viu muito e ainda assim acredita que o show deve continuar.
E foi isso que senti em cada cena. Que, enquanto houver palco, haverá histórias como a dela: de amor, de resistência, de brilho próprio. E sim, com uma pitada generosa de confusão, porque o teatro, no fundo, é um espelho nosso — e quem nunca teve seu momento Suzete, que atire o primeiro aplauso.
MEU CORAÇÃO NO PALCO
Fazer essa peça foi mais do que atuar. Foi um exercício de presença, de escuta, de entrega total. Em cada ensaio, em cada figurino ajustado na correria do camarim, em cada piada improvisada no calor da cena… tinha uma Taty inteira, apaixonada pelo palco e por essa profissão que me escolheu e eu escolhi de volta.
Sabe aquele tipo de projeto que aquece até os bastidores? Pois é. Alô, Alô Brasil foi isso. Uma homenagem ao teatro popular, aos artistas que vieram antes, e ao riso como resistência.
E se você esteve na plateia naquela noite mágica no Teatro Ítalo, meu muito obrigada. Você faz parte dessa história que mora em mim com carinho eterno.
Aos meus queridos Marcelo Ayres (Mister Jeff), Daniela Pinfildi (Clara) e João Alba (Garçom), meu mais sincero obrigada pela parceria, pelo carinho nos bastidores e pela amizade de cena e de vida. É uma honra dividir o palco com vocês — e mais ainda, dividir histórias.
E um agradecimento especial à maravilhosa Marcia Polacchini, por confiar no meu trabalho e me presentear com essa oportunidade tão linda. Alô, Alô Brasil foi e sempre será uma daquelas joias raras que a gente guarda no coração — e no camarim da alma.