YOU – Série da Netflix.
Tem algo de fascinante — e perigosamente viciante — em assistir YOU. A série da Netflix que mistura romance tóxico com suspense psicológico é como aquele relacionamento que a gente sabe que não faz bem, mas continua voltando. Sabe?
Joe Goldberg, o protagonista com cara de bom moço e alma de arquivo confidencial, é o tipo de personagem que desafia nossa bússola moral. Ele ama como quem investiga, protege como quem persegue. E a gente assiste, tensa e cúmplice, quase torcendo pra que ele “não seja pego dessa vez”, mesmo sabendo que ele deveria ser.
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É um retrato sombrio da era digital, onde o amor se mistura com algoritmos e o desejo vira dado. Joe não manda flores: ele hackeia, observa, arquiteta. O “homem romântico” aqui é, na verdade, um voyeur de fachada vintage, que cita livros raros enquanto esconde corpos no porão de uma livraria. É charmoso, mas é crime.
Ao longo das temporadas, a série brinca com nossos limites. Até onde vai a empatia por um vilão bem-escrito? E quando é que a obsessão começa a se fantasiar de paixão? YOU é, também, sobre nós — nosso fascínio pelo controle, nossa vontade de sermos escolhidos, notados, desejados. Mesmo que seja por alguém como Joe.
Com aquele filtro sépia doentio e trilha sonora que parece sussurrar “corre que é cilada”, YOU é entretenimento com gosto de alerta vermelho. A gente assiste com os olhos vidrados, mas no fundo sabe: se o Joe fosse real, a gente bloqueava. Ou pelo menos fazia um story-passivo-agressivo dizendo “homens que acham que amar é possuir, não passem daqui”.
No fim das contas, a série não está só falando sobre ele. Está falando sobre nós. Sobre como o amor virou um terreno minado de expectativas e vigilância. E sobre como, às vezes, o perigo usa voz calma, olhar fixo… e um bom algoritmo de busca.